Para Profissões

Declaração ao bancário

Olha, você que está aí perdido em meio a esses papéis, carimbos e números... Você que não percebe que eu deixo a fila inteira passar à minha frente só para ser atendida por você... Será que pra você amor também tem que ser pré-datado? Ou "este seu olhar/quando encontra o meu" não passa de um cheque sem provisão, de uma promessa sem fundos?
Sabe, meu querido, você parece fazer questão de deixar meu coração encostadinho, feito uma caderneta de poupança intocável, à qual você só vai apelar numa emergência, e isso me deixa muito triste. Será que não dá pra mudar de investimento e transformar esse carinho que eu lhe dedico em, pelo menos, uma aplicação a prazo fixo e renda garantida. Quantos beijos você vai me pagar de juros, por todo esse atraso ao qual está me submetendo?
Acho que esse monte de computadores, contas, calculadoras, boletos e cartões magnéticos estão lhe deixando desatento demais para as coisas que realmente têm valor nesse mundo, como o amor e a afeição. Você parece maluco, só consegue enxergar dinheiro e cifrões enquanto eu fico aqui, igual a uma carteira de ações, que você só pensa em resgatar após a aposentadoria.
Assim não dá. Tenha um pouco mais de flexibilidade, deixe de agir como se fosse um caixa eletrônico e preste um pouco mais de atenção em mim. Se você quiser ser um pouco mais ousado e fazer de conta que seus lábios são carimbos, pode até me autenticar duas vezes: uma na frente e outra no verso; digo, um beijo na testa e outro na nuca. Juro que eu vou gostar!

Beijos da
(assinatura)